Pela criação da bolsa preguiça de pensar

Imagem acima fez sucesso nas redes sociais após mídia anunciar "bolsa crack"

Imagem acima fez sucesso nas redes sociais após mídia anunciar “bolsa crack”

De tempos em tempos surge uma necessidade coletiva de indignação e revolta popular. Estranhamente, porém, a ânsia por mudanças urgentes não é porque a qualidade das escolas públicas é tão baixa que ao chegar  nos concorridos vestibulares das universidades públicas os ex-alunos de escolas municipais e estaduais são banidos do ensino superior gratuito, mesmo que não tenham dinheiro para pagar uma faculdade particular. Não é também porque dentro desses cursos públicos quase não há negros. Muito menos porque nosso sistema carcerário é precário, com superlotação e, em vez de redimir os presidiários, transforma-os em pessoas piores, destinadas a serem eternamente excluídas da sociedade. O inconformismo popular não é porque perdemos jovens cada vez mais cedo para as drogas, o tráfico e o crime ou porque a Fundação Casa trata os jovens internos como delinquentes irremediáveis. Antes as reclamações fossem por salários dignos para professores, pela erradicação da extrema pobreza ou pela diminuição do abismo gerado pela desigualdade social. O que faz subir o sangue é esse absurdo de abrirem cotas para que pobres e negros tenham acesso ao ensino superior de qualidade gratuito, o fato de um jovem sempre  marginalizado pela sociedade não poder ser logo jogado para apodrecer na cadeia aos 16 anos ou o disparate de a família de um presidiário ter direito a receber do governo o que ele contribuiu com a previdência.

imagesO alvo da vez agora é a “bolsa crack”. Basta circular quinze minutos pelas redes sociais para ser apresentado a ela e ser levado a acreditar que a partir de agora o governo presenteará os dependentes em crack com R$ 1350,00. Diante de tanta revolta eu, que ainda não tinha ouvido falar sobre o assunto, resolvi consultar o sábio Google. E adivinhem só? Em cinco minutos lendo diferentes sites descobri que o Cartão Recomeço, perjorativamente e tendenciosamente apelidado de bolsa crack, é voltado apenas a usuários que buscarem ajuda voluntariamente — ou seja, quem realmente quer sair dessa vida mas não consegue sozinho —  e não dará dinheiro algum para os dependentes e tampouco para a família deles. O cartão, inspirado em um programa mineiro semelhante, será destinado aos altos gastos com clínicas de reabilitação e não terá como ser usado de outras maneiras, sendo que dois dos principais motivos explicados para a implantação do Cartão Recomeço são a falta de vagas no tratamento público à dependência e o fato de o crack já ter se tornado um problema de saúde e segurança públicas.

Crack1Não sei se o programa dará certo e reconheço que ele pode ser criticado de muitas maneiras, além de questionarem se não seria melhor investir esse dinheiro em prevenção ou construção de mais clínicas públicas, por exemplo, mas sinceramente não fico indignada com cotas, maioridade penal de 18 anos, bolsa reclusão ou “bolsa crack”. Acho até que deveriam criar mais uma bolsa: a “bolsa preguiça de pensar”, destinada ao tanto de gente que apesar de ter frequentado a escola e ter sido alfabetizada parece não ter a capacidade de se informar sobre um tema antes de palpitar. Talvez essa bolsa pudesse auxiliar as pessoas que não se permitem conhecer um assunto sobre diferentes pontos de vista antes de dizer que já têm uma opinião formada. Seria bom se ela conseguisse resgatar as pessoas desse mundo obscuro no qual você tem uma posição muito clara, mas não consegue responder os porquês de pensar assim se for questionado. Infelizmente essas pessoas provavelmente não lerão nada do que eu disse, porque acharão que o texto é grande demais, mas como coloquei bastante imagem, talvez elas me deem uma chance.

analfabetismo

P.S.: Reforço que esse texto não é de forma alguma uma crítica a quem se informou verdadeiramente sobre esses assuntos tão polêmicos e se posicionou contra cotas, bolsa qualquer coisa ou a favor da redução da maioridade penal. Acho, inclusive, importante que haja diversidade de opiniões, para estimular debates.

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3 respostas para Pela criação da bolsa preguiça de pensar

  1. Sato disse:

    Não tinha lido muito (na verdade, eu não li fonte alguma) sobre o assunto é interessante saber como serão empregadas essas bolsas, atualmente venho lendo sobre o Sisu, Fies, Prouni e vejo que esses programas tem uma grande organização e seriedade. Acredito que o grande problema não sejam as ideias em si, mas a forma como muitos tentam se aproveitar desses auxílios….

  2. deboraqsantos disse:

    A criação dos programas geralmente tem boas intenções, mas nem sempre o desenvolvimento e gestão são bons. Ou às vezes a própria população não sabe usar, querendo sempre tirar vantagem em algo, infelizmente.

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